quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O Primeiro dia na escola



Nunca pensei que pudesse me emocionar tanto ao ver meu filho dar os seus primeiros passos em direção a sua vida na escola. A maternidade tem dessas surpresas e somos as vezes tomadas por emoções sem aviso prévio.
Começou então essa semana a famosa « rentrée scolaire » aqui na França, em Paris, onde moramos, onde Pablo nasceu, onde hoje meus pés estão fincados.
Decidimos coloca-lo na escola pública e estou finalmente muito orgulhosa dessa opção. Pode parecer de longe uma coisa óbvia, pois acreditamos que na Europa é mesmo assim, a escola é pública e nem se discute, mas a realidade não é exatamente essa. Há também muito o que se criticar no sistema de educação público francês, e eu sou a primeira a coçar todas as minhas pulgas atrás da orelha, e era de fato muito reticente a esta opção. Além de ter me formado recentemente pela pedagogia de Rudolf Steiner - onde na França todas as escolas são particulares e sustentam uma critica consistente sobre a educação nacional - grande parte das minhas próprias criticas ao meu amado povo francês vem dessa educação rígida, muitas vezes sem molejo e sem respiração, que começa infelizmente na escola maternal.
Mas após as andanças das nossas conversas aqui em casa, de algumas ideias políticas que se afirmam a cada dia, a decisão foi tomada : colocar nosso filho na escola pública é acreditar e sustentar uma educação para todos, onde podemos por alguns segundos esbarrar na palavra ‘‘igualdade’’ com alguma autenticidade, e isso é bonito demais de viver.
Por ter vindo de uma outra realidade, bem diferente dessa, me emocionou mais ainda esse primeiro dia de aula ao ver todas essas crianças chegando a escola, quase todas a pé, quase todas vizinhas, cada uma com a sua diferença, a sua crença, a sua cor, a sua historia. Todos juntos na escola. No meio de tantas desgraças e tragédias que vivemos hoje, na Europa e no mundo, compartilhar esse momento foi para mim um sopro de esperança, foi ar entrando por todos os poros e me fazendo acreditar que sim, sim, sim, é possível ainda acreditar.
Partindo então desse pensamento macro, queria também falar daquilo que é só nosso, entre eu e Pablo. A verdade é que desde o momento em que senti as primeiras contrações do parto entendi (ao menos no meu caso) que ser mãe é também, entre outras coisas, uma eterna separação :

separar-se, descolar-se, deixar ir, sair de você para o mundo, e isso é para mim um dos maiores aprendizados.

Vê-lo andar com suas próprias pernas e ir pouco a pouco imprimindo seus passos na sua caminhada. Lógico que meus olhos estão grudados, atentos, preocupados e o seguem o tempo todo, mas as pernas são dele e elas o levam inevitavelmente para longe de mim.
Não me lembro ao certo como foi o meu primeiro dia na escola, mas deve ter sido algo que me marcou, pois essa emoção sentida trazia a mim a memória dos meus passos. O Pablo muitas vezes revela a minha própria imagem, aquilo que eu sou, a criança que eu fui. Ele, que é o futuro, ilumina o meu passado e me conta um monte de coisas sobre mim mesma.
Quando fui busca-lo ontem, ele estava lá sentadinho, mochila nas costas, olhar meio perdido, boquinha entre aberta, pensamentos na lua, impossível não me ver nesta imagem, quem me conhece sabe bem, lá estava eu, com a cabeça nas estrelas, esperando minha mãe chegar.

Ao ver esse homenzinho com a sua mochila nas costas, levando nela o seu coelho branco, entrando na sala de aula, descobrindo sempre e pra sempre o mundo... ele ainda não sabe, mas eu sei e por isso o coração se encheu de emoção e os olhos de lágrimas :

Filho o teu caminho começa, as tuas pernas vão te levar bem além de mim.


Feliz rentrée !



sexta-feira, 6 de junho de 2014

dans le métro

Dans le métro
Deux souris,
De la même couleur du charbon et de rails
Elles couraient – une derrière l’autre
Cherchaient de la nourriture,
Peut être

Puis trois souris,
Puis cinq
Puis six

Elles jouaient à apparaître
Et disparaître
A se multiplier

Si j’étais heureuse (?)
Peut-on être heureux dans le souterrain ?

Je m’aperçois sur le reflet de la fenêtre
J’avais perdu la boule turquoise
Que jusque là appartenait à ma boucle d’oreille
J’étais triste, je l’aimais bien,
Il me reste encore l’autre, du côté gauche

Je vois aussi sur ce même reflet
Cette mélancolie qui s’installe
Dans mon corps
Avec douceur

Je ne l’aime pas
Mais je l’accepte
Comme l’insomniaque qui accepte
La fuite de son sommeil

J’accepte cette tristesse
Qui (en réalité) vient
De là-bas
C’est du samba à l’envers

Et pour être heureux
Il faut beaucoup d'espoir
Espérer
Qu’une étoile dansante
Puisse naître de tout ce chaos intérieur
Tel qui a pu rêver autrefois
L’ami Friedrich,

(sur un plateau, je crois que je dois tout apprendre à nouveau)

sábado, 24 de novembro de 2012

outono

outono que chega assim, amarelo caido no chão, cobre o verde, choram as lagrimas de um longo verão
e olha o inverno, que chega depois que todas as folhas amarelas deitarem no chão.

filho

esqueci das minhas palavras. fui viver. tive um filho. Pablo, hoje sou tua. esqueci das minhas palavras e da minha solidão. fui viver. hoje tenho uma cicatriz entre o umbigo e o sexo.

domingo, 16 de janeiro de 2011

anjos

eu acredito em anjos.
e os anjos? acreditam nas nossas asas?
eu quero uma asa bem grande.para ver la do alto.
pés que dançam. olhar de casal que se apaixona.
beijo de mãe. espetaculo de circo e sonhos possiveis.

essa manhã, fique comigo

ela disse para ele, não vá. fique. não desapareça no último lance da escada em caracol. essa manhã. fique comigo. tome um café amargo. me conte do amanhã e do depois.
ele engoliu o café. correu pela escada e desapareceu na bruma de um domingo. la fora o céu era azul. dentro um branco vazio e o gosto é amargo. café preto. geléia de laranja.

sábado, 25 de setembro de 2010

telhados


antenas captando um outro lugar para sonhar
o mar, o tejo, a lingua que me come,
portugal um inicio,
pra te dizer em linguas proprias,
eu sou,
todo esse imenso desconhecido.